Self-made man: a busca pela autossuficiência no mundo do empreendedorismo.

By Cleilson Alves Moita 

Se analisarmos o conceito de self-made man, em que é sustentada grande parte da história empresarial norte-americana, veremos que esse termo descreve a pessoa que se faz por si mesma, que conseguiu alcançar uma situação social superior devido ao próprio esforço, ou seja, o indivíduo que "se fez sozinho", que "fez o próprio caminho". De acordo com Valenzi (2003, p. 145-146), "Na busca pela felicidade, o sujeito norte-americano encarna e constrói a idéia do self-made man: aquele que, movido pelo próprio esforço pessoal, atinge seus objetivos (principalmente aqueles relacionados à propriedade de bens)." Além disso, ele reforça que o povo americano não conhece limites ou barreiras para o sucesso, são pessoas que conquistam o que já lhes foi predestinado.

Figura 1 - Sucesso empresarial 

FONTE: Crello

O termo self-made man surgiu na primeira parte do século XIX, associado principalmente à masculinidade que devia ser provada e demonstrada no mercado. Kimmel (1998) afirma que estes self-made man eram ausentes dos lares e distantes da família, dedicados exclusivamente ao seu trabalho de modo bastante individual. Ademais, a masculinidade deveria ser demonstrada através de provas constantes, tendo em vista a conquista de bens materiais como uma evidência de seu sucesso.

Figura 2 - Masculinidade e o sucesso financeiro

FONTE: Tvoy Poster

A história e vida da maioria dos self-made man, que hoje estão em posições de sucesso, são marcadas por inúmeros casos de desafios, obstáculos e, inclusive, derrotas. Porém, apesar das dificuldades que surgiram em seus caminhos, eles demonstraram força e resistência, tendo como resultado o sucesso. Nessa perspectiva, Kimmel (1998) comenta que na América as pessoas podem subir tão alto quanto suas próprias habilidades, desejos e motivações, da mesma forma que também podem cair, sem qualquer rede de segurança e sem ter a quem culpar pelas suas falhas, senão a si mesmo.

Castellano e Bakker (2015) comentam que a partir do século XX a ideia do self-made man se relaciona com o papel desempenhado pela mídia e pelas celebridades. Antes esse ideal se relacionava diretamente com a noção de caráter e personalidade, mas hoje é caracterizado pela ascensão da imagem e esse contexto tem ganhado força devido ao, "[...] avanço das tecnologias digitais e também pode ser notado pela ascensão de personagens que fazem fortuna da noite para o dia no ambiente virtual. A possibilidade de se tornar alguém e de prosperar nesse lócus ganha uma dimensão ainda mais complexa [...]." (CASTELLANO; BAKKER, 2015, p. 37). Com isso, "o homem de negócios" ganha bastante valor na mídia, sendo considerado como uma celebridade, alguém digno de ser admirado e visto como referência para além de sua atuação profissional. Sendo assim, algumas figuras como a do ilustre criador do Facebook, Mark Zuckerberg, podem ser consideradas como propagadoras dos ideais do self-made man.

Figura 1 - Mark Zuckerberg: fundador do Facebook

FONTE: Bloxs

No entanto, muitas pessoas são contrárias a essas concepções, afirmando que é impossível existir um self-made man, um homem que se desenvolveu unicamente por esforços próprios. Nesse sentido, Garcia (2021) afirma que o sistema capitalista, no século XXI, têm se aproveitado do discurso do self-made man para propagar a cultura empreendedora, apresentando-a de maneira inspiradora, como uma forma de revolução, de um mundo de oportunidades que podem ser alcançadas através do esforço e do trabalho duro. Ele continua dizendo que, "O sistema capitalista busca, através discurso do self-made man, condições cada vez mais precárias e mão-de-obra cada vez mais baratas, vendendo a ilusão de que o indivíduo pode, apenas por ele mesmo, produzir e prosperar." (GARCIA, 2021, p. 210). Então, fica o seguinte questionamento: você acredita que é capaz de realizar seus sonhos sozinho?


REFERÊNCIAS


CASTELLANO, Mayka; BAKKER, Bruna. Renovações do self-made man: meritocracia e empreendedorismo nos filmes À procura da felicidade e A rede social. C-Legenda-Revista do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual, n. 32, p. 32-32, 2015. Disponível em: https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36973/21548. Acesso em: 05 dez. 2021.


GARCIA, Adrianne. THE CLOCK IS TICKING: REFLEXÕES SOBRE O AMBIENTE 24/7 E O MITO DO SELF-MADE MAN. Revista Brasileira de Estudos Organizacionais, v. 8, n. 1, p. 196-213, 2021. Disponível em: https://rbeo.emnuvens.com.br/rbeo/article/view/381/pdf_1. Acesso em: 03 dez. 2021.


KIMMEL, Michael S. A produção simultânea de masculinidades hegemônicas e subalternas. Horizontes antropológicos, v. 4, n. 9, p. 103-117, 1998. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71831998000200007. Acesso em: 09 dez. 2021


VALENZI, M. A. M. The Wonder Years: a identidade americana na mídia televisiva. 2003. Dissertação (Mestrado em Língua Inglesa e Literaturas Inglesa e Norte-Americana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. doi:10.11606/D.8.2004.tde-19092004-113605. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-19092004-113605/publico/Mirlei.pdf. Acesso em: 10 dez. 2021.

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