Diversidade étnico racial nos EUA

Por Edinaldo Ribeiro Neres
 
Fonte : Portal MultiRio


Estados Unidos ou, oficialmente, Estados Unidos da América são a nação e potência  mais influente do mundo e que exerce grande influência econômica e militar sobre as outras regiões do planeta. Por conta de sua grande extensão territorial, o país se torna muito atrativo diante dos olhos  dos  imigrantes que saem de seus países de origem buscando por melhores oportunidades de emprego e , consequentemente, uma melhor condição de vida para si próprios ou para suas famílias,  fortalecendo assim essa visão de “ sonho americano” que as pessoas têm em relação ao país. Em 2017, o número de imigrantes nos Estados Unidos ultrapassou 43 milhões, segundo relatório apresentado pelo Centro para Estudos de Imigração. Os mexicanos aparecem em maior número. O estado da Califórnia é o que apresenta maior número de estrangeiros. 


Os asiáticos são o grupo racial que mais cresce atualmente nos Estados Unidos, o que reflete um aumento na imigração procedente dessa região em mais de uma década, informou nesta quarta-feira o Escritório do Censo americano. Baseado em uma análise contínua dos dados do censo de 2010, a agência federal disse que o grupo dos que se identificaram como apenas asiáticos, e não como de uma raça mista, cresceu 43,3% desde a década anterior. Este aumento é mais de quatro vezes superior à taxa de crescimento da população total dos Estados Unidos, que cresceu 9,7% no mesmo período, alcançando os 308.745.538 habitantes. Cerca de 14,5 milhões de pessoas, ou 4,8% da população total, se identificaram como somente asiáticos. Outros 2,6 milhões, ou 0,9%, disseram ser asiáticos em combinação com outro grupo racial, em geral branco. Os estados com a maior taxa de crescimento de asiáticos foram Nevada (116%), Arizona (95%) e Carolina do Norte (85%). Nova York registrou a maior população asiática, com 1,1 milhão, seguida de Los Angeles (484.000) e San José, Califórnia (327.000). Os chineses representam o maior grupo de asiáticos (quatro milhões, incluindo 700 mil que se identificaram como de raça mista), seguidos pelos filipinos (3,4 milhões) e os indianos asiáticos (3,2 milhões). 


Embora a população dos eua seja formada por imigrantes, a raça dominante é a anglo-saxã. Há também negros, chineses e asiáticos. Os índios depois de serem quase totalmente exterminados pela presença do homem branco, hoje, são uma raridade. Ainda assim, a diversidade étnico racial dos EUA é formada segundo o SENSO de 2020 por norte-americanos caucasianos que são cada vez menos – 8,6 %na última década -, mas continuam a ser a maior etnia nos Estados Unidos. Em contrapartida, são cada vez mais aqueles que se identificam como multirraciais, sendo o crescimento populacional impulsionado por hispânicos e asiáticos. Os norte-americanos caucasianos ou em combinação com outra etnia continuam a ser o maior grupo nos Estados Unidos, confirmou o gabinete de Censos, na apresentação dos resultados de 2020. Apesar de serem menos 8,6 %desde os Censos de 2010, a população branca não-hispânica representa 57,8 % dos norte-americanos. Este é o valor mais baixo de população caucasiana alguma vez registado pelos Censos nos Estados Unidos.


Fonte: Senso 2020



Mais de 204 milhões de pessoas identificam-se como “apenas brancos” e 235 milhões como “brancos ou em combinação com outro grupo racial”. A população multirracial com duas ou mais etnias ascendia a 33,8 milhões em 2020, quando em 2010 era de apenas nove milhões. O novo número representa um crescimento de 276 %. As pessoas que se identificam como de “uma outra raça” ou combinado com outro grupo aumentaram 129 %, ultrapassando a população afro-americana ou negra enquanto segundo maior grupo racial. Em 2020, residiam nos Estados Unidos 62 milhões de latinos ou hispânicos, sendo este o grupo étnico preponderante no Estado da Califórnia. No Texas, a “população branca não-hispânica” representa 9,7 %.


Esta diversidade é geralmente fonte de conflitos sociais e raciais por parte da maioria dominante. E por conseguinte essa troca entre diferentes povos com os americanos resultou em uma grande influência sobre a cultura local. Com isso, costumes, culinária, música, dentre outros, foram se misturando e formando a cultura americana, inegavelmente e única. Por acolher povos de todos os lugares do mundo, o país recebe influências culturais e étnicas desses povos, tornando assim, um país multicultural, que prega a cultura e a religião acima de tudo. 


Fonte : Sabedoria Política



Outro aspecto importante de se comentar é que o país prega a liberdade religiosa, já que há uma imensa variedade de culturas presentes no país, como já mencionado. A liberdade religiosa é assegurada pela constituição que assegura o livre exercício de crenças e tradições desses povos que saem de seus países em busca de pregar suas verdades de maneira livre, e que adentram territórios americanos trazendo consigo toda sua cultura de tradições e crenças, tornando o país pluralmente cultural e abrangente de diferentes religiões. A maioria dos estadunidenses diz-se cristãos. Há um grande número de evangélicos e protestantes no país, contudo, há também um grande grupo de pessoas que se dizem sem religião. Os não cristãos dividem-se entre o judaísmo, budismo e islamismo, mas são a minoria.


A liberdade religiosa não consiste apenas em Estado a ninguém impor qualquer religião ou a ninguém impedir de professor determinada crença. Consiste ainda, por um lado, em o Estado permitir ou propiciar a quem seguir determinada religião o cumprimento dos deveres que dela decorrem (em maneira de culto, de família ou de ensino, por exemplo) em termos razoáveis. (MIRANDA, 2000, p.409)


É inevitável que a crescente onda de diversidade tanto religiosa como cultural deixa essas pessoas a mercê da sociedade, em que a simples busca por direitos iguais e pregar suas verdades torna-se um movimento de luta, em que esses povos lutam diariamente por suas vidas, pouco a pouco mesmo com tantas barreiras impostas, os vários movimentos sociais vão ganhando força e fazendo as pessoas crentes de que um dia tudo isso possa melhorar . O patente racismo de diversos grupos de poder é demonstrado na teimosia estadunidense em tratar deste assunto como irrelevante, mas na verdade esse é um assunto muito recorrente e ultrapassado e que perante o século XXI não é mais tolerante em nenhum sentido. 


Por conseguinte, outro aspecto que assola não só a população americana mais o mundo como um todo, é a questão da segregação racial que visa separar os indivíduos ou grupos de indivíduos de uma mesma sociedade com base em critérios étnicos ou raciais. Podemos citar por exemplo o apartheid, que privilegiava a elite branca do país e excluía os negros dos espaços públicos, da educação e postos de trabalho. 


Fonte: BBC 



O personagem mais icônico que lutou contra o regime foi Nelson Mandela (1918-2013). Mandela militou no Congresso Nacional Africano, liderando a ala jovem do partido, realizando atos de sabotagem e promovendo greves, com objetivo de derrubar esse regime .


[...] uma intensidade de violência à dignidade da pessoa humana que é a segregação. Esta consiste, como diz Noberto Bobbio, „em impedir a mistura dos diversos entre os iguais‟. Pode expressar-se por meio de obstáculos jurídicos à miscigenação e pela colocação da „raça inferior‟ pela „raça superior‟ num espaço separado. O Apartheid, na África do Sul, enquanto perdurou, foi um paradigma da segregação institucionalizada e do que há de mais nefasto na herança racista do colonialismo europeu.9


Quando falamos de segregação, vem à mente também outro fator, a desigualdade racial, ou seja, desigualdades de oportunidades, de condições de vida, de direitos sociais, igualdade de gênero etc, que resultam em diferenças étnicas. Segundo dados da BBC mundo, há cinco áreas em que mostram nitidamente essa relação de desigualdade racial nos EUA, por exemplo a questão salarial: a renda dos  brancos em 2010 foi em média 89 mil dólares enquanto os negros foi de metade desse número, somando apenas 46 mil dólares, sem contar que os negros são os que mais sofrem expulsões e suspensões escolares, os que menos têm casa própria dentre outros fatores que contribuem pra essa desigualdade. Vimos recentemente o movimento #blacklivesmatter, um movimento que defende o fim da violência policial contra os negros e a igualdade de direitos com os brancos.


Fonte: choices.edu



O BLM já reúne dezenas de associações que lutam pelos direitos das populações negras e se espalhou por vários países. Segundo o movimento, o racismo ainda é uma realidade, e os negros são vítimas constantes de abusos por parte das forças de segurança do país. Esse movimento vem pra mostrar, segundo afirma Silvana Inácio, jornalista e criadora do Podcast Zumbido, que essa “Não é uma guerra entre brancos e negros, mas uma luta de todos contra o racismo. O Black Lives Matter deu visibilidade, mas a nossa luta é muito mais antiga, pela existência como seres humanos, pelo direito de viver e sair na rua sem ser alvejado", A segregação racial e a desigualdade racial são temas que assolam não só os Estados Unidos, mas todo o mundo, e em pleno século XXI não temos mais espaço para desigualdades e julgamentos por isso temos que lutar todos os dias para que esses pensamentos tornem-se de vez, ultrapassados. 


"Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário."( Nelson Mandela)


Diante dos dados e fatos supracitados, entende-se que a diversidade cultural é um ato de inclusão que engloba um conjunto de culturas existentes, ou seja, a variedade de culturas diferentes em um determinado local, bem como também engloba diferentes identidades étnico religiosas que permeiam as raízes da nossa sociedade. A segregação racial e a questão da desigualdade racial são fatores que assolam terras não só americanas, mas as do mundo como um todo, erradicando ondas de ódio contra esses povos que lutam pelos mesmos direitos sociais, econômicos, de gênero etc. Entende-se que a luta pelo livre exercício da cultura e dos movimentos anti racistas são uma luta contínua, que merecem mais importância pois são movimentos que buscam por mudanças para as minorias que buscam por visibilidade em um mundo tão tradicional, racista e desigual. 

 

> Abaixo estão alguns vídeos que podem ser acessados com o objetivo de complementar o conteúdo explanado


Fonte: https://youtu.be/DlkWsc6yCMI


Fonte: https://youtu.be/e3gFxJ4vgNE




REFERÊNCIAS 

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140817_desiguladade_eua.shtml > Acesso em 13 de Dezembro de 2021 


GARCÍA, Jennifer; SHARIF, Mienah. ​Black Lives Matter​: A Commentary on Racism and Public Health. American journal of public health. vol. 105, no. 8. pp. 27-30, 2015.


MAPPING POLICE VIOLENCE. ​Police violence map​. Disponível em: <https://mappingpoliceviolence.org/ > Acesso em: 12 dezembro.2021


MUNANGA, Kabengele. ​Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia​ In. BRANDÃO, André Augusto Pereira (org.) Cadernos Penesb. 5, 2003.


WIEVIORKA, Michel. ​O racismo, uma introdução​. São Paulo: Perspectiva, 2007.


PANASIEWICZ. Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo. Diálogo inter- religioso na teologia de Claude Geffré/ PANASIEWICZ. Roberlei. 2o ed. São Paulo: Paulinas; Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2010. P.113.


VILHENA, Maria Angela. Ritos r expressões. Temas do ensino religioso. São Paulo, 2005. Editora Paulinas. P. 22.


https://www.census.gov/newsroom/press-releases/2021/population-changes-nations-diversity/population-changes-nations-diversity-portuguese.html > Acesso em 13 de Dezembro de 2021.


https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54518349.amp > Acesso em 16 de Dezembro de 2021. 


BONILLA-SILVA, E. Racism without Racists: color-blind racism and the persistence of racial inequality in America. Lanham: Rowman & Littlefield publishers, 2006.


Morris, A., & Bashi Treitler, V. (2019). O ESTADO RACIAL DA UNIÃO: compreendendo raça e desigualdade racial nos Estados Unidos da América. Caderno CRH, 32(85), 15–31. https://doi.org/10.9771/ccrh.v32i85.27828> Acesso em 16 de Dezembro de 2021 


FLEMING , C. M. ; MORRIS , A. Theorizing Ethnic and Racial Movements in the Global Age: Lessons from the Civil Rights Movement .  Sociology of race and ethnicity , jan . 2015.


FRANKLIN , J. H. From slavery to freedom . Nova York: Alfred A. Knopf, 1967.


MORRIS, Aldon; TREITLER, Vilna Bashi. O Estado Racial da União: compreendendo raça e desigualdade racial nos Estados Unidos

da América. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.phpscript=sci_arttext&pid=S0103-49792019000100015  Acesso em 16 de Dezembro de 2021 


STEINBERG, S. The ethnic myth: race, ethnicity, and class in America. 3. ed. Nova York: Beacon Press, 2001. 








Comentários

Postagens mais visitadas