Americanidade e a Cultura de Abundância

By Inês Oliveira


A cultura de abundância, como veremos, está intrinsecamente ligada ao ideal de vida americano e carrega consigo diversos aspectos que se relacionam com o que nós chamamos de Americanidade, em especial, quando falamos de valores americanos. O trabalho duro, a busca pelo sucesso, o materialismo, a inovação, dentre outros aspectos, são fatores que contribuíram e ainda contribuem para a construção e perpetuação dessa cultura de abundância que envolve a vida nos Estados Unidos da América. Mas, afinal, o que seria a cultura de abundância? Nada mais é do que uma característica do povo americano de querer e buscar viver em meio à fartura, seja ela qual for, fartura de dinheiro, de conforto, de tecnologias, individual ou coletiva. Também vale ressaltar que esse aspecto da cultura americana se apresenta há séculos ainda na época das colônias, como afirma Carleton (2013, p. 4)

Colonists in the 17th century considered abundance in the context of land rights. Legal property grants to new settlers helped encourage immigration to the colonies, and the more land a person had, the greater chance for financial security and a higher quality of life in the new land.


Entendemos que com o passar dos anos, a representação dessa abundância mudou. Se antes consistia em possuir terras, hoje equivale, por exemplo, a viver confortavelmente no “sonho americano” ou usufruir do que há de mais tecnológico no mercado. Seja qual for o “tipo” de abundância, muitos valores da americanidade sustentam esse ideal, como por exemplo, o trabalho duro e o esforço pelo sucesso. Desde crianças, os estadunidenses são incentivados a buscar o crescimento pessoal e profissional, a liberdade e o conforto financeiro, não só por questões econômicas mas por princípios cultivados já na infância, como a independência, por exemplo. De toda maneira, o hardwork possibilita a comodidade financeira que também contribui para que os americanos mantenham-se pertencentes à essa cultura de abundância, que depende, em parte, do poder de consumo do povo.

                  

Fonte: Google Imagens


Outros aspectos que se relacionam a essa prosperidade americana são o materialismo e o consumismo. Ao passo que os estadunidenses conquistam a liberdade e o conforto financeiro que tanto prezam, buscam, obviamente, também usufruir de todo esse esforço que se materializa de muitas formas: seja em uma casa confortável, no carro do ano, seja investindo na mais alta tecnologia do mercado. O desejo de possuir acaba tornando-se uma força motriz para a manutenção da cultura de abundância, e não é à toa que os EUA investem tanto em inovação e marketing, sempre mantendo uma economia movimentada e que ocupa o lugar de maior do mundo. Embora o consumismo traga muitos benefícios para uma sociedade tipicamente capitalista, ele também gera alguns problemas como a questão da alta produção de lixo que é impressionante quando falamos de USA como podemos observar no infográfico abaixo:


 Fonte: https://www.saveonenergy.com/land-of-waste/ 

Como já mencionado, a cultura da abundância envolve não só questões individuais, pessoais, mas também abrange o social, o coletivo, o país como um todo. A fartura e a prosperidade não se resumem a bens materiais ou poder aquisitivo mas também relacionam-se ao que chamamos de excepcionalismo americano, ou seja, a crença de que eles são o maior e melhor país do mundo, em uma auto-apreciação em abundância que se perpetua desde o século XVIII.

Logo após a Independência, em 1776, os norte-americanos construíram um poderoso mito para a nação, a certeza de que eram um povo excepcional e que haviam criado uma sociedade como nenhuma outra na face da terra. [...] criou-se a ideia de um povo excepcional, que tinha como missão construir uma sociedade moralmente virtuosa e que serviria de exemplo para outros povos.

(JUNQUEIRA, 2003, p. 165,169)


Tendo origens tão profundas e sendo construída sob valores tão intrínsecos ao povo, podemos compreender os motivos da permanência da cultura de abundância norte-americana. Em suma, vimos que ela está intimamente ligada a questões como liberdade e independência (principalmente financeiras), trabalho duro, conforto, consumismo e inovação, sendo também uma característica peculiar desse povo que continua alimentando nas novas gerações o excepcionalismo e busca pela prosperidade.


REFERÊNCIAS


JUNQUEIRA, Mary A. Os discursos de George W. Bush e o excepcionalismo norte-americano. Margem, São Paulo, n. 17, p. 163-171, 2003.


CARLETON, Tamara. A Measure of Abundance: How the Notion of Abundance Defines Our Nation’s Legacy and Business Outlook. U.S. Chamber of Commerce Foundation. 2013.


 

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